Nos Sinais do Ressuscitado, o júbilo por “um carisma vivo, um caminho compartilhado”

Neste artigo, propõe-se refletir como o lema sugerido para a preparação e a vivência do jubileu dos 150 anos de fundação da Congregação das Filhas de Jesus: “Um Carisma Vivo, Um Caminho Compartilhado”, encontra-se em sintonia profunda com os sinais transmitidos por Jesus Ressuscitado à comunidade primitiva. Para assim, buscar, encontrar e oferecer “Um novo Rosto do Carisma” à nossa sociedade hoje, como nos pede a Determinação da Congregação Geral XVIII.

A trágica morte de Jesus na cruz provocou em seus seguidores e seguidoras um profundo desconcerto e muita incompreensão. Como compreender e aceitar que o homem em quem depositaram suas esperanças sofresse este terrível destino? Como aceitar que o Messias esperado terminasse a sua vida como um condenado morto na cruz?  A mente e o coração dos discípulos estavam turvados de tanta desilusão e muito medo do que podia lhes acontecer a partir de agora. Eles não recordavam nada do que Jesus lhes ensinara enquanto andavam pela Galileia ou a caminho de Jerusalém, não recordavam quantas vezes Jesus os alertara de que isso ia acontecer: “É necessário que o Filho do Homem sofra muito, seja rejeitado pelos anciãos, chefes dos sacerdotes e escribas, seja morto e ressuscite ao terceiro dia”. (Cf. Lc 9, 22; 9,43b-45; Lc 18, 31-34).

Os sinais do Ressuscitado

 No primeiro dia da semana, ainda era madrugada quando Maria Madalena, uma mulher apaixonada por Jesus e por seu projeto de vida, vai ao sepulcro na busca e no desejo de continuar perto daquele que a acolhera e a salvara. Vai em busca do corpo de um morto. Seus olhos e seu coração ainda não haviam sido iluminados pela luz do ressuscitado. Surpreende-se e se desespera ao se deparar que a pedra que selava o sepulcro havia sido retirada e perceber que o corpo de Jesus não se encontrava dentro.

Por isso, volta correndo para a comunidade e comunica a seus amigos mais uma tragédia: “Retiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o colocaram” (Jo 20,2b). Pedro e o outro discípulo saem correndo, vão ver o acontecido. Entram no sepulcro e confirmam que Jesus não está lá. O sepulcro está vazio, não há o mais mínimo sinal de Jesus naquele espaço de morte. Não adianta buscar entre os mortos quem está vivo. Assim nos diz a citação de Lucas 24, 5b-6a: “Por que procurais entre os mortos aquele que vive? Ele não está aqui; ressuscitou”  

Vida: O primeiro sinal do Ressuscitado foi escancarado no vazio do túmulo. Jesus está vivo, ressuscitou. Mas os discípulos e discípulas dele: “ainda não haviam compreendido as Escrituras, segundo a qual devia ressuscitar dos mortos” (Jo 20, 9). E lançando o olhar para outras narrativas bíblicas é possível reconhecer muitos outros sinais deixados por Jesus ressuscitado.

Paz: Sem dúvida nenhuma algo que os discípulos e discípulas de Jesus precisavam com urgência, após a sua morte na cruz, era o sinal da paz, a paz interior como símbolo da presença pacificadora que experimentaram quando Jesus estava com eles. A paz capaz de ajudá-los a sair do seu esconderijo, visto que, encontravam-se fechados literalmente por medo dos judeus. A paz que não é passividade e nem ausência de conflito, mas uma paz capaz de tirá-los da apatia, do medo e do trancamento. Por isso, nos primeiros encontros do ressuscitado com a comunidade reunida, Jesus oferece este sinal, este dom e diz: “A paz esteja convosco!’ Tendo dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria por verem o Senhor. Ele lhes disse de novo: A paz esteja convosco!” (Jo 20, 19i-21a).

Presença: Não basta ter sido ressuscitado pelo Pai, é preciso ser presença de vida na comunidade. E é isso que Jesus ressuscitado vai continuar sendo para a comunidade dos seguidores e seguidoras dele, presença viva e vivificante, capaz de devolver a vida e a esperança aqueles homens e mulheres abatidos pela dor e pelo sofrimento. A presença de Jesus não se dá em momentos especiais de nossa vida.

Ele se faz presente na vida cotidiana, nos afazeres mais simples e necessários da vida humana. Foi assim, que os discípulos uma vez mais se viram tocados pela presença de Jesus. Após uma noite infrutífera de trabalho, de nada pescar que, ao se aproximarem da margem, sem que reconhecessem de imediato a pessoa de Jesus, são motivados a jogar as redes uma vez mais: “Lançai a rede à direita do barco e achareis” (João 21, 6). Esta ordem não é estranha aos discípulos, em outros momentos da vida deles, no cotidiano da vivência com Jesus, eles já haviam sido motivados a lançarem as redes e apanharam uma quantidade de peixe muito grande. (Cf. Lc 5,1-11, Jo 21, 1-6), por isso, logo o discípulo que Jesus amava diz: “É o Senhor” (Jo 21, 7b). É no ordinário da vida que somos convidados e convidadas a sentir e reconhecer a presença de Jesus

Alegria: O sinal que não poderia faltar nesta reflexão é o da alegria que os discípulos/as sentiram ao reconhecerem a Jesus, vivo e presente no meio deles: “Os discípulos, então ficaram cheios de alegria por verem o Senhor” (Jo 20b); “E como, por causa da alegria, não podiam acreditar ainda e permaneceram surpresos…” (Lc 24, 41). Muitos outros sinais é possível detectar nas narrações sobre a ressurreição de Jesus que nos ajudam a rezar e interiorizar profundamente a mensagem. Que cada um e cada uma de nós, faça a experiência do encontro pessoal com o ressuscitado e se deixe tocar por ele.

“Um carisma vivo, um caminho compartilhado”

Após este rápido passeio pelas Escrituras, somos convidados e convidadas a lançar o olhar, à luz das mesmas Escrituras para nossa querida Congregação, deixando-nos tocar e questionar por estes sinais. Como temos vivido e transparecido os sinais do ressuscitado em nossa vida e missão? A que o Senhor nos chama hoje? O jubileu nos convida a oferecer ao mundo e a Igreja um novo rosto do carisma. Qual é o rosto do carisma que o hoje nos pede como família congregacional?

O lema que orienta o nosso caminho e reflexão ao longo deste ano jubilar é: “Um Carisma Vivo, Um Caminho Compartilhado”. Carisma que nasce fundamentado na vida do Ressuscitado, por isso pôde ao longo dos anos ser sinal de vida e de ressurreição presente em tantas realidades e situações. Carisma que brota no coração de uma jovem, Joana Josefa, mas que se espalha mundo afora. Carisma que não se prende nas paredes de uma congregação, mas que é da Igreja e do mundo, convidando-nos a Ser verdadeiras Filhas de Jesus, e como nos pede nossas Constituições: “Amar e abraçar tudo que Cristo nosso Senhor, amou e abraçou” (CFI 137).

No caminho compartilhado entre religiosas, leigos e leigas ao longo destes anos fomos convidadas e convidados a ser sinal de Paz que emana de Jesus Cristo. E como família da madre Cândida, como filhas e filhos de Jesus pedimos que não falte em nosso ser e em nosso proceder a graça de sermos instrumentos deste dom. Bem como, não nos falte ser sinal da presença de Cristo em meio a tantas realidades que nos desafiam a permanecer e a esperançar. O senhor continua contando conosco, mulheres e homens desejosos de transformar o mundo e as realidades de morte em realidades de vida nova. Que no árduo caminho, saibamos transmitir alegria e a confiança de que a morte não tem a última palavra.

Que neste ano mais intenso de preparação e reflexão sobre nossa vida e missão, ser e proceder como família carismática da Madre Cândida Maria de Jesus possamos crescer na vivência destes sinais: vida- presença, paz e alegria, em abertura a tudo que o senhor mesmo vai nos inspirando para que a vida seja plena e abundante para todos e todas. Que Santa Cândida nos acompanhe em nosso peregrinar como família congregacional.

Por: Irmã Leila Janaína Pereira da Silva, FI.

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