A economia da atenção e a falta de foco

Estratégias e desafios na comunicação

Na era da informação (ou da desinformação) conquistar a atenção das pessoas é o maior desafio de uma apresentação, de uma aula, de um anúncio, ou de um texto como este. Em 2013, um estudo ganhou fama por indicar que o tempo de captura da atenção humana seria, em média, de 8 segundos (tempo menor do que um peixe-dourado é capaz de se manter concentrado). Esse dado significa que, se você chegou até aqui, este texto conseguiu capturar a sua atenção, pelo menos, neste primeiro parágrafo.

Estudos mais recentes, no entanto, demonstraram que o tempo de captura da atenção humana diminuiu ainda mais. Em 2020, ele caiu para 5 segundos e, atualmente, gira em torno de 3 segundos, apenas. Este brevíssimo espaço de tempo é que define se um indivíduo continuará, ou não, lendo ou assistindo algo. Espero que você ainda esteja aí.

Após o desafio de capturar a atenção de uma pessoa, é preciso mantê-la. De acordo com pesquisas realizadas pela professora Dra. Glória Mark (Universidade da Califórnia), que estuda como as mídias digitais afetam a qualidade de vida da sociedade atual, em 2004 (há exatos 20 anos), o tempo médio de atenção mantida em uma tela girava em torno de 2 minutos, poucos anos depois caiu para 75 segundos, chegando agora a 47 segundos. Mark escreveu o livro “Attention Span: A Groundbreaking Way to Restore Balance, Happiness and Productivity” (Tempo de Atenção: Uma Forma Inovadora de Restaurar o Equilíbrio, a Felicidade e a Produtividade, na tradução livre), explicando o declínio da capacidade de concentração das pessoas.

A economia da atenção se baseia na premissa de que a atenção é um recurso escasso no mundo atual. As pessoas têm uma atenção finita e cada dia menor, e, devido ao constante bombardeio de informações, não conseguem concentrá-la em tudo, o tempo todo. Isso tem impactado a nossa capacidade de absorção de informação, de aprendizado, de foco e de concentração. Uma das hipóteses é de que a proliferação de dispositivos digitais e de tecnologias agravam a situação. Essa mudança não se deve à biologia cerebral apenas, mas à velocidade da informação no ambiente moderno.

A atenção se tornou um recurso valioso, e as empresas e indivíduos competem para capturá-la e retê-la, em um ambiente sobrecarregado de informação. Isso tem implicações profundas em como as pessoas passaram a interagir umas com as outras, a consumir conteúdo e a fazer escolhas, tanto no campo pessoal quanto profissional.

As empresas digitais, como redes sociais, sites de notícias e plataformas de streaming, ganham dinheiro quando conseguem manter a atenção de alguém. Quanto mais tempo uma pessoa se mantém focada nessas plataformas, mais anúncios ela vê e mais dados sobre seus interesses e comportamentos essas empresas coletam. Por isso, a atenção é um recurso importante, pois ela gera lucro. O dinheiro flui para onde a atenção das pessoas vai. O que é comercializado nessas plataformas é a atenção do indivíduo.

O problema social da atenção, ou melhor, da sua escassez, não está apenas no ambiente digital. A falta de foco e de concentração atinge também os demais âmbitos da vida humana, interferindo na capacidade de trabalho, de produção, de socialização e, principalmente, de comunicação.

Transmitir informação e conhecimento, de maneira aprofundada, se tornou um grande desafio cotidiano. As publicações, os artigos, os boletins informativos e os anúncios passam a apresentar cada vez menos textos, mensagens mais claras e rápidas, letras fáceis de leitura e conteúdos que não necessitem de esforço para a interpretação. Nosso cérebro é preguiçoso e a comunicação passa a trabalhar com o que chamamos de diminuição da demanda cognitiva. Quanto menos energia um anúncio demandar para ser entendido, melhor ele será. E assim vamos matando a criatividade, as cores e a profundidade da informação.

Nicholas Carr, autor do livro “The Shallows: What the Internet Is Doing to Our Brains” (Superficiais: o que a internet está fazendo com nossos cérebros, na tradução livre), explora como o uso contínuo da internet está alterando a forma como pensamos, concentramos e processamos informações. Ele explica que o cérebro humano é altamente plástico, ou seja, ele se adapta e muda com base nas atividades que realizamos regularmente.

O uso constante da internet, com suas interrupções frequentes e estímulos rápidos, está moldando nossos cérebros de maneiras a afetar nossa capacidade de foco e de pensamento profundo. Carr argumenta que estamos perdendo a capacidade de ler e de pensar de forma profunda, porque a internet nos condiciona a consumir informações de forma superficial, saltando de um tópico para outro, sem reflexão prolongada.

Não bastasse a dificuldade em se manter o foco, a sociedade sofre do que é chamado de atenção fragmentada, com a constante interrupção de notificações, hiperlinks e mídias sociais, nossa atenção se divide em vários fragmentos. Carr discute como essa fragmentação torna mais difícil a concentração em tarefas complexas e a manutenção de um foco sustentado, o que é essencial para o aprendizado e a criatividade.

A internet está mudando a forma como armazenamos e recuperamos informações. Nossa memória, ou seja, nossa disponibilidade mental (a quantidade de conhecimento que temos disponível mentalmente sobre determinado assunto no momento em que nos é solicitado) está cada dia menor. No dia a dia, estamos mais dependentes de fontes externas de memória, como o Google e a agenda do celular. Essa realidade prejudica a capacidade humana de pensar com profundidade, e mais ainda de integrar e comparar teorias e versões sobre um determinado tema. Capacidades estas que são essenciais para a análise crítica e para a inovação de processos.

Foco e Concentração

Qual seria a solução para esse problema global? Alguns autores apostam no trabalho voltado para o fortalecimento do foco e da concentração, contando com a plasticidade cerebral.

O foco sustentado permite um aprendizado mais rápido e profundo, o que é crucial para dominar habilidades complexas. No livro “Deep Work: Rules for Focused Success in a Distracted World” (Trabalho Profundo: Regras para o Sucesso Focado em um Mundo Distraído, na tradução livre), Newport enfatiza que, em um mundo no qual se recompensa a inovação e a criatividade, a capacidade de concentrar-se intensamente é essencial para se destacar. O autor critica a cultura moderna de trabalho, onde a comunicação constante e a multitarefa são frequentemente vistas como sinais de produtividade, mas que na verdade prejudicam a capacidade de realizar trabalho de alta qualidade.

Daniel Goleman, no livro “Foco: a atenção e seu papel fundamental para o sucesso”, explora a importância da atenção como uma habilidade essencial para o sucesso pessoal e profissional. O autor demonstra as bases científicas do foco, explicando como o cérebro processa a atenção e os desafios associados à concentração. Ele discute como a neuroplasticidade permite que as pessoas treinem e melhorem sua capacidade de foco.

Para o autor, existem três tipos de foco que precisam ser equilibrados para uma vida plena e bem sucedida. Seriam eles o foco interno (capacidade de prestar atenção em si mesmo); o foco no outro (relacionado à empatia e à habilidade de entender e se conectar com as emoções e perspectivas de outras pessoas) e o foco externo (atenção direcionada ao mundo ao redor, incluindo o entendimento de sistemas e contextos mais amplos).

Ele argumenta que, em um mundo cheio de distrações, a capacidade de manter e direcionar a atenção é cada vez mais crucial para alcançar metas e manter o equilíbrio emocional. Goleman ainda relaciona a capacidade de foco à liderança eficaz, argumentando que líderes bem-sucedidos são aqueles que conseguem equilibrar os três tipos de foco, compreendendo tanto as próprias necessidades, quanto a dos outros, além de saber analisar o panorama externo e mais amplo.

O autor sugere que a capacidade de estar presente no momento é crucial para uma vida plena e satisfatória. A boa notícia é que ele vê o foco não apenas como uma habilidade inata, mas como uma competência que pode ser aprimorada através da prática deliberada e de estratégias conscientes.

Entender o funcionamento da mente humana nos ajuda a pensar em formas de trabalho, de aprendizado e de produção de conteúdo que possam realmente conquistar a atenção de nossas famílias, educadores e alunos.

A criatividade e a busca por novas formas de fazer comunicação, a testagem de diferentes formatos de discursos e a inovação são caminhos essenciais nessa jornada. A sociedade segue rapidamente um novo formato de processamento de informação e de pensamento. A educação precisa ter um olhar especial e carinhoso nesse processo.

Por Renata Dantas

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