A gestão escolar enfrenta desafios cada vez mais complexos e, diante dessa realidade, a forma de atuação do gestor torna-se fundamental para assegurar um ambiente educacional inclusivo, fraterno, justo, pacífico, um ambiente verdadeiramente EM PASTORAL, além de garantir uma gestão democrática e eficiente. Sabemos da importância de conciliar os pilares da instituição – pedagógico, administrativo e pastoral, além de dar conta de toda a pressão interna e externa, onde se faz necessário avaliar, acompanhar e promover ações a partir do que se identifica como força, fraqueza, ameaças e oportunidades.
Heloísa Lück destaca que há uma relação direta entre a qualidade de liderança dos gestores e a qualidade do ensino e desempenho dos alunos. Reforça que os cargos que têm por obrigação a liderança devem se dedicar ao estudo, à observação e à reflexão sobre a mesma para que possam exercê-la de forma completa. Importante aqui reforçar sua fala no livro Liderança em Gestão Escolar, onde diz: “Aliás, é importante reconhecer que todo trabalho em educação, dada a sua natureza formadora, implica ação de liderança, que se constitui na capacidade de influenciar positivamente pessoas, para que, em conjunto, aprendam, construam conhecimento, desenvolvam competências, realizem projetos, promovam melhoria em alguma condição, e até mesmo divirtam-se juntas de modo construtivo, desenvolvendo as inteligências social e emocional.” (Lück,17)
Lück propõe uma visão de gestão que vai além dos aspectos administrativos e burocráticos, focando o papel fundamental da liderança na construção de um ambiente educacional eficaz e transformador. Segundo Lück, a gestão é um processo que deve ser participativo, com objetivos claros, alinhados com a missão, a visão e os valores da instituição. Para ela, o conceito de gestão envolve a gestão participativa, liderança educacional, foco na qualidade da educação, planejamento estratégico, avaliação como ferramenta de gestão e visão sistêmica, ou seja, a gestão escolar deve ser estratégica, participativa, centrada na liderança e focada na melhoria contínua da qualidade educacional.
Seguindo a linha de Heloísa Lück, o professor Renato Casagrande coloca que tanto os aspectos de gestão como os de liderança são fundamentais para a condução das instituições, sendo importante saber agir em cada momento e em cada situação, colocando-se de forma austera para manter o controle, porém sendo maleável e flexível, quando a situação assim o exigir. Ele coloca também que a atuação do gestor pode ser desmembrada em oito papéis interdependentes que, quando exercidos de forma equilibrada, promovem a gestão democrática e consolidam a liderança dentro da instituição educacional. Atentar à importância de cada um desses papéis, nos ajuda a entender o trabalho do gestor e o quanto sua capacidade de integrá-los é uma das chaves para o sucesso da instituição.
Nessa perspectiva, Casagrande nos aponta que esses papéis estão focados em quatro pontos que são de extrema importância para a comunidade escolar, referentes ao público interno e externo. Para o atendimento interno, o foco é a gestão de pessoas, os processos administrativos e pedagógicos, ou seja, da instituição como um todo, em sua inteireza. Para o público externo, atenta-se aos objetivos institucionais e à sociedade, alinhados à Rede a qual a instituição pertence e aponta como missão, visão e valores, além de o cenário socioeconômico e cultural. Como Santa Cândida já alertava, atentar para os sinais dos tempos, ou seja, estar atento à sociedade, à realidade de cada momento.

Fonte: Casagrande, Renato. Gestão Escolar e os oito papéis do Gestor.
Vejamos de forma sintética, no quadro a seguir:

Fonte: Gestão escolar e os oito papéis do gestor. Instituto Casagrande.
Ao olharmos para o gestor como empreendedor, precisamos entender que ele deve estar atento para compreender cenários e identificar oportunidades e necessidades de mudança no ambiente educacional. A visão empreendedora permite que as tendências sejam antecipadas, colocando a instituição sempre atenta ao cenário inovador, adaptando às exigências contemporâneas, de maneira proativa, sem correr o risco de estagnação e perda de relevância, por não acompanhar as rápidas mudanças sociais e tecnológicas. Para a Rede Filhas de Jesus, ser uma instituição inovadora é essencial para atender cada vez melhor e de forma integral, ao público que está sob nossa responsabilidade. É de fundamental importância reforçar que empreendedorismo não diz respeito apenas a questões empresariais e sim, ações criativas e inovadoras, ressaltando a necessidade de envolver as pessoas ativamente para a solução dos mais diversos tipos de desafios. É necessário provocar e se permitir ser provocado pela equipe em constante movimento investigativo para inovar e criar.
O segundo papel é o de gestor como negociador. Este papel envolve a capacidade de estabelecer relacionamentos, parcerias e acordos com a comunidade e a sociedade organizada. A habilidade de negociação é crucial para mobilizar recursos e apoio externo, essenciais para o desenvolvimento de projetos educacionais sustentáveis e eficazes. Um gestor que sabe negociar transforma a escola em um centro de cooperação e desenvolvimento comunitário. A competência de negociador precisa estar intrinsecamente alinhada com o Centro de Serviços Compartilhados, pois havendo uma centralização de processos, os mesmos não podem estar em compasso diferente com o planejamento estratégico mais amplo, em Rede.
Assumindo a função de planejador, o gestor define diretrizes, objetivos, estratégias e metas que estão alinhados com a visão, missão e valores da rede de ensino. Este papel é fundamental, pois garante que todas as ações da escola tenham um propósito claro e uma direção estratégica. Um planejamento eficaz é o que diferencia uma gestão meramente reativa de uma gestão verdadeiramente proativa e orientada para resultados, em seus diversos âmbitos, educacionais e de sustentabilidade. Em tempos de mudanças céleres, o planejamento passa a ocupar um lugar de extrema importância.
Quando aprofundamos no papel de organizador compreendemos que este complementa o de planejador, pois envolve a organização da estrutura, dos processos e dos recursos necessários para implementar as estratégias construídas coletivamente. Neste papel, o gestor assegura que os recursos disponíveis sejam utilizados de maneira eficiente e que as operações diárias da escola sejam conduzidas de forma ordenada e funcional, no nosso caso reforçando o alinhamento com o Centro de Serviços Compartilhados. Esse papel faz parte também de uma gestão estratégica, desenhando e redesenhando processos, alocação adequada de recursos, disciplina no cumprimento de horários, reuniões eficientes e otimização de tempo, entre outros aspectos.
Atuando como orientador, o gestor coordena e orienta a implementação de projetos, a execução de ações e rotinas dentro da instituição. O gestor orientador garante que a equipe esteja alinhada, tanto administrativa quanto pedagogicamente, minimizando desvios e promovendo a consistência na execução das atividades. Nunca é demais lembrar que, para orientar, é preciso que o gestor seja capaz de dar o exemplo naquilo que orienta. Sem o exemplo, não há orientação que se sustente: “Edifiquem com o exemplo, que é o ensinamento mais eficaz.” Santa Cândida Maria de Jesus, já assim orientava.
O monitoramento envolve a avaliação contínua do desempenho das equipes de trabalho e dos planos e ações educacionais, utilizando indicadores baseados em fatos e dados. A avaliação regular permite ajustes necessários, assegurando que a escola se mantenha no caminho certo para alcançar suas metas. Este papel é essencial para uma gestão baseada em evidências e orientada por resultados.
Completando os papéis desempenhados pelos gestores teremos o de facilitador e o de mentor. No desempenho da tarefa de facilitador é preciso promover uma gestão participativa, fomentando o trabalho em equipe e mediando conflitos quando necessário, valorizando a diversidade. A gestão participativa é um elemento central para criar um ambiente escolar inclusivo e colaborativo, onde todas as vozes são ouvidas e respeitadas, construindo um espaço de harmonia e um clima favorável para o desenvolvimento de um verdadeiro ambiente pastoral. Nessa perspectiva é importante salientar a necessidade de saber delegar tarefas e se colocar em posição de acompanhamento. Quando as pessoas se sentem vigiadas vão perdendo o sentimento de pertencimento, pois vê sua credibilidade sendo testada o tempo todo. Além disso, o gestor facilitador precisa constantemente desconstruir hábitos instalados.
Atuando como mentor, a gestão sensibiliza, engaja e mobiliza as pessoas para conduzir a organização na busca da concretização da missão, visão e valores.
O mentor é o que confere ao gestor a capacidade de inspirar e motivar sua equipe, criando um senso de propósito e pertença entre todos os membros da comunidade escolar. Atua desenvolvendo as habilidades humanas de sua equipe, trabalhando ferramentas e técnicas eficazes apresentando uma comunicação clara, seja ela verbal ou não verbal, para ser capaz de influenciar, de forma honesta, transparente, gerando comprometimento.
Em síntese, os oito papéis do gestor delineados por Renato Casagrande são fundamentais para uma gestão escolar de excelência. A complexidade do papel exige que o gestor seja visionário, estrategista e um líder capaz de engajar e motivar sua equipe. A integração equilibrada desses papéis auxiliará a gestão a alcançar seu pleno potencial, promovendo não apenas a eficácia pedagógica e administrativa, mas também o desenvolvimento integral e a transformação da comunidade educativa.
“O desenvolvimento dos indivíduos é construção cultural
subjetivada graças à indeterminação da natureza humana”.
José Gimeno Sacristan
Referências bibliográficas:
CASAGRANDE, Renato. Gestão escolar e os oito papéis do gestor. MBA em Liderança e Gestão Educacional.
LÜCK, Heloisa. Liderança em gestão escolar. 4.ed.-Petrópolis, RJ:Vozes, 2010. (Série Cadernos de Gestão).
SACRISTAN, J.G. A educação que temos, a educação que queremos. In: IMBERNOÓN, F. (org) A educação no século XXI. Porto Alegre: Artmed, 2000.
Por Cássia Lara Neves de Araújo
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