Resumo
Esta comunicação se insere na discussão acadêmica sobre a atuação feminina no Pontificado de Francisco com ênfase no Sínodo para a Amazônia. Buscaremos descrever em perspectiva feminina através das autoras pesquisadas Michele de Perrot, Maria Cecilia Domezi, Maria Clara Bingemer, o contexto e a condição da mulher na história e no catolicismo. Com essa temática levantamos uma problemática atual no Pontificado de Francisco que ainda hoje na contemporaneidade continua sendo tema de discussões. Sabemos que na perspectiva de gênero no século XIX não competia a mulher fazer suas escolhas, decidir sobre si mesma e tão pouco colaborar e atuar para a cultura a partir de uma experiência religiosa. Segundo Perrot, a religião exercia um poder sobre as mulheres. Todas as religiões eram dominadas pelos clérigos e as mulheres eram subordinadas a eles, geralmente excluídas do exercício de culto. Segundo a autora, o catolicismo é, em princípio, clerical, não permitindo a atuação da mulher. Somente os homens poderiam ter acesso ao sacerdócio e ao latim. Eles detinham o poder, o saber e o sagrado. Os lugares de abandono e confinamento eram os conventos, refúgios contra o poder masculino e familiar, eram lugares de apropriação do saber e mesmo de criação. Na pesquisa descobrimos que as fontes históricas sobre a atuação da mulher na sociedade e na Igreja permitiram colocar em evidência a misoginia, opressão e a subordinação que sofreram as mulheres. A necessidade de recuperar a memória e atuação feminina revela uma negação histórica no tocante ao lugar da mulher na sociedade, sobretudo, na esfera do religioso. Nesse sentido, a iniciativa de Francisco em propor o Sínodo para a Amazônia incluindo a mulher em novos espaços no processo sinodal, pode sinalizar passos significativos na perspectiva de gênero e na inserção de todo o povo de Deus na experiência eclesial a partir da etimologia mesma da palavra Sínodo que significa: “caminhar juntos”. Segundo Domezi, o programa de reforma da Igreja impulsionado pelo Papa Francisco é bastante oportuno à continuidade da narrativa histórica feminina em construção na sociedade.
Palavras-chave: Papa Francisco; Mulher; Sínodo; Religião; Catolicismo
Nesta comunicação, buscamos conversar com três referenciais teóricos principais, que narram a atuação e a história das mulheres na Igreja e na sociedade. A francesa Michele de Perrot, uma das mais importantes pesquisadoras da história das mulheres, e duas brasileiras; a teóloga Maria Clara Bingemer, que aborda em um de seus artigos a proposta da sinodalidade, como colaboração para uma maior integração entre homens e mulheres, na Igreja; e Maria Cecília Domezi, doutora em Ciências da Religião, que faz uma análise desde a perspectiva feminina da atuação da mulher, no Vaticano II.
Trouxemos para esta comunicação referenciais teóricos femininos, pois incide na busca por enriquecer a reflexão, o pensamento, as provocações a partir da contribuição acadêmica feminina já que, segundo Perrot, por um longo período, na história, suas vozes foram esquecidas, e silenciadas.
Esses referenciais teóricos contribuem para evidenciar o protagonismo das mulheres na Igreja a partir da ótica do Papa Francisco, cujo magistério é marcado por uma série de compromissos sociais, e documentos, que inauguram o que vem sendo chamado de um novo humanismo.
Nesta comunicação, buscamos provocar, despertar sonhos e novos compromissos, eclesiais e sociais, a partir da atuação da mulher, na Igreja, inserida dentro de uma proposta sinodal.
De acordo com Maria Clara Bingemer, uma das autoras pesquisadas: A nota característica do Sínodo foi o desejo e a demanda de integração da voz da Amazônia com a voz e o sentir dos bispos participantes, pastores da Igreja. Foi no dizer da assembleia reunida, sinodalmente, uma nova experiência de escuta para discernir os novos caminhos pelos quais o Espírito deseja conduzir a Igreja.
Assim, o Sínodo, mais que um evento eclesial, foi um compromisso de abraçar, assumir e praticar o novo paradigma da ecologia integral, o cuidado da “casa comum” e a defesa da Amazônia.
A Igreja é chamada a assumir seu papel profético de denunciar a violação dos direitos humanos das comunidades indígenas e a destruição do território amazônico. Para isso, deve ser uma igreja pobre, inculturada e samaritana. Pronta para a solidariedade, e a partilha com os povos que habitam a Amazônia, e dela vivem, e pedem ao mundo atenção e participação ativa na luta por sua sobrevivência.
Para evidenciar o protagonismo feminino, no pontificado do Papa Francisco, revisitamos seus documentos atuais como: Evangelli Gaudium, Gaudete et Exsultate, Amazonia, Novos caminhos para a Igreja, e para uma ecologia integral, como também um artigo intitulado Mulher e ministérios na Igreja Católica à luz do pensamento do Papa Francisco, de Clelia Peretti.
Na perspectiva do Concílio Vaticano II, Domezi (2016, p.12) vai nos dizer que o pensamento conciliar foi aberto às alteridades, e pautado pelo diálogo. As temáticas de igualdade social e dos direitos iguais ocuparam um lugar normativo, no pensamento conciliar, na mesma linha, segue Clélia Peretti em seu artigo, afirmando que, embora o Vaticano II tenha contribuído para o reconhecimento, valor e dignidade da mulher, ainda é insuficiente. Segundo a autora, ainda é necessário uma eclesiologia que envolva mais asmulheres, e traga à Igreja as mudanças que são necessárias. Para Francisco, as mulheres devem assumir responsabilidades, na Igreja, também onde as decisões são tomadas.
Apoiando-nos em um artigo recente de Maria Clara Bingemer intitulado “Sinodalidade e diferença de gênero” (2022, p. 209), podemos abrir o campo de nossa reflexão, na perspectiva de gênero, quando pensamos em “sinodalidade”. Segundo a autora, a palavra “sínodo” é uma palavra de origem grega; synodos (caminho), muito antiga, venerada na tradição da igreja, e indica o caminho percorrido pelo povo de Deus unido, portanto, a sinodalidade nada mais é do que “caminhar juntos”, como Igreja. Expressa um modo de viver e de agir da Igreja Povo de Deus, que se manifesta no caminhar juntos, no encontro em assembleia, e na participação ativa de todos os seus membros, na sua atuação evangelizadora.
Nesse sentido, segundo a autora (2022, p.210), a sinodalidade propõe, então, não apenas uma reflexão teórica sobre a Igreja, mas, também uma proposta concreta de um novo modelo, para que a própria Igreja seja o que deve ser. Na dinâmica sinodal, na Igreja, a presença feminina leva consigo aspirações, que não surgem de uma ambição de poder ou um sentimento de inferioridade. Tão pouco de uma busca egocêntrica, de reconhecimento, elas brotam de um desejo de viver em fidelidade, ao projeto de Deus, que olha o seu povo, e lhe devolve a dignidade de irmãos.
A contribuição feminina, na dinâmica da sinodalidade, implica uma riqueza, fruto da própria configuração da identidade, que se dispõe a trabalhar em cooperação, a tecer redes e gerar sinergias, em abertura para buscar respostas e novas causas de solução, em resiliência para resistir em meio a situações difíceis. Esta é chamada para os desafios da contemporaneidade e a contribuir para uma autêntica renovação das estruturas, fruto de uma necessária conversão pastoral.
Referências
BALLARÍN, P.D. La educación de la mujer española en el siglo XIX. Editorial Síntesis. S. A. 1 de outubro de 2001.
DOMEZI, M.C. Mulheres no Concílio Vaticano II. Editora Paulus, 2016.
PASSOS, J.D. Por uma Igreja Sinodal. Paulinas,2022.
PERETTI, C. Mulher e ministérios na Igreja Católica à luz do pensamento do Papa Francisco. Revista de Cultura Teológica. 2021
PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. Editora Contexto. 2019.
Por Ir. Patrícia Helena Coimbra, FI
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